Olimpíadas da obstinação

 

               O Projeto Olimpíadas de Química, do qual faz parte a Olimpíada Norte-Nordeste de Química, e agora, a Olimpíada Brasileira de Química, visa a descobrir jovens pré-universitários com talento e aptidões para o estudo da Química, estimulando-os a prosseguir no estudo desta ciência, tendo em vista a formação de um contingente desejado de profissionais.

               Olimpíadas culturais, notadamente na área de ciências, já é tradição em diversos países, e a de química, entre as existentes, é das mais antigas. Hoje, quando mais de 40 países já participam de Olimpíadas Internacionais de Química, iniciadas em 1968, no Brasil estamos apenas começando, mas com um entusiasmo tal que é inevitável nosso alinhamento neste grupo.

             Neste mister, uma equipe de professores das universidades do Estado do Ceará chamou a si a tarefa de conduzir este Projeto e incentivar docentes de outros rincões a levar adiante a idéia. Em 1996, esta paixão invadiu o terreno de outras coordenadorias estaduais que cresceram em nível de organização, estreitaram-se os laços, praticando-se maior aproximação entre a coordenadoria geral e as coordenadorias estaduais, tudo isto traduzido nas centenas de correspondências e contatos estabelecidos de parte a parte. A reunião de avaliação e planejamento das atividades futuras que, neste ano, se realiza pela 2a vez, visa, também, a cumprir um dos objetivos definidos no Projeto, o de proporcionar maior integração entre professores dos diferentes estados (art. 1o § II). A troca de experiência é muito salutar.

             A Olimpíada Brasileira de Química, organizada por esta equipe, fincou bandeira em 20 estados brasileiros e nossa ambiciosa estratégia é semear a idéia em todos os seus estados. No corrente ano, através deste evento, foi possível selecionar a equipe brasileira que participou da II Olimpíada Ibero-americana de Química, realizada, em outubro passado, na cidade do México. Com sua marcante participação, conquistou duas medalhas de bronze ao competir com nove países do grupo ibero-americano, alguns deles com larga experiência por suas participações em olimpíadas internacionais. Ao publicar nestes anais os exames aplicados na referida competição internacional, objetivamos estabelecer um paradigma, de tal modo que estudantes e docentes envolvidos neste trabalho possam assenhorear-se do padrão de ensino e do nível de exigência praticado nesses países. É a globalização invadindo nosso quintal acadêmico. Sendo a Química uma ciência essencialmente experimental, a cobrança destas habilidades nesses exames tem sido a tônica dessas olimpíadas, área que em nossas escolas carece dos atributos de qualificação. A nós, professores e dirigentes de nossas escolas de 2o grau, cabe avaliar o quanto estamos distanciados desta prática e nos conscientizar da necessidade de introduzirmos, já, esta modalidade de ensino.

              Ao promover uma avaliação crítica do evento na ocasião em que se conclui esta etapa, contabilizamos um tangível crescimento e a imensa satisfação de contar neste ano com a participação dos dois estados da região Norte que restavam aderir a este grupo: Amazonas e Tocantins. Foram instaladas no decurso deste período coordenadorias nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, tendo por objetivo o fortalecimento do segmento Olimpíada Brasileira de Química. Almejamos para o próximo ano garantir a participação de jovens de toda a Região Sul/Sudeste. Assim, fica, já neste segundo ano de atividades, configurada a cristalização deste projeto. O que perseguimos é, finalmente, não a elitização do ensino da química, mas seu crescimento em termos qualitativos e a socialização dos resultados. O lema é valorizar e estimular a qualidade impedindo a ascensão da mediocridade. Salvo algumas pouquíssimas e gratas exceções, lamentamos a ausência da escola pública. Este cáustico resultado obscurece a alquimia presente na retórica vazia do discurso oficial. Vítima da cegueira governamental, tal resíduo coloidal restou precipitado pelos princípios da seletividade.

             Por fim, resta-nos agradecer aos abnegados coordenadores estaduais responsáveis maiores pelo êxito desta empreitada; aos professores das escolas participantes, pelo contributo inquestionável na formação de seus alunos; ao Prof. Geraldo Jesuíno, que não se poupou no caprichoso trabalho de impressão deste livro; ao Prof. Guilherme C. Correia, por sua contribuição na correção dos exames da Olimpíada Brasileira e noutros momentos deste evento; à equipe de professores da Universidade Estadual do Ceará, que elaborou os exames e se desdobrou na sua correção vencendo os limites impostos pelo tempo.

             Consignamos, ainda, nossos agradecimentos aos reitores das Universidades Estadual do Ceará e Federal do Ceará, à Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa - FUNCAP, à Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura - FCPC, ao superintendente da ASFOR (Fábrica de Asfalto da PETROBRAS), à Editora SARAIVA e à TROPICAL Editora, aos diretores dos colégios Christus (CE), Diferencial/Anglo (PI), 7 de setembro (CE), Organização Educacional Farias Brito (CE), ao prof. Marcos Paulino, e, ainda, ao Núcleo de Ensino de Ciências e Matemática da UFC - NECIM, à VARIG, os quais não se furtaram ao apoio de que necessitamos, animando-nos, assim, a enfrentar futuros desafios para os quais esperamos contar, novamente, em outras ocasiões, com essa inestimável colaboração.

             Que a química capte para si a destinação social dos jovens participantes deste evento. Vale a pena sonhar!

Fortaleza, novembro/1996                                                                                                                                                                     Sérgio Melo

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