Mensagem do Magnífico Reitor da Universidade de Brasília

 aos participantes das Olimpíadas de Química


 

 

 

 

 

 

Já se disse que “esconder as coisas é a glória de Deus e descobri-las é a glória dos homens”. Um sonho milenar arrebata a humanidade: conhecer os segredos da matéria. Já se avançou muito nesse sentido e em várias frentes. As ciências da natureza - a Física, a Química e a Biologia, aparentemente distantes, são na verdade vertentes de uma mesma caminhada rumo ao conhecimento do universo.

As explicações vão se tornando cada vez mais gerais e as teorias mais universais. No final de século XIX muitos cientistas, empolgados com os avanços conquistados, chegaram até a acreditar que a descrição completa do universo estava próxima. Mas a verdade é que os segredos da natureza, não obstante os avanços alcançados no último século e nos nossos dias, mostram-se infinitos e a ciência prossegue em sua busca sem fim.

Para os homens comuns, a ciência ainda parece algo distante e inalcançável, e é freqüentemente confundida com o místico e confusas práticas esotéricas. Neste início de milênio ainda é fácil constatar que o conhecimento científico, mesmo o mais simples, ainda não chegou à maioria dos homens e isso não é diferente em nosso País. É importante que trabalhemos mais para que o conhecimento científico e suas conquistas cheguem a todos os homens, desde a sua juventude, para que possam desfrutar mais do desenvolvimento científico e tecnológico, e para que possam também contribuir para os novos avanços.

A Química está na base de tudo que existe. Entretanto, não é muito fácil uma pessoa despreparada compreender a sua essência. A história registra que mesmo químicos importantes tiveram dificuldades para entender princípios que foram sendo estabelecidos. Consta que Sainte-Claire Deville, por exemplo, ilustre descobridor do alumínio e que realizou trabalhos tão importantes e originais sobre a dissociação do vapor de água, do gás clorídrico e do gás carbônico, chegou a afirmar: “Eu não admito nem a lei de Avogrado, nem os átomos, nem as moléculas e recuso-me absolutamente a acreditar naquilo que não posso ver nem imaginar”... Realmente, é preciso algum esforço e imaginação para se estudar e entender química de modo que os conhecimentos alcançados hoje, muito mais amplos e profundos do que no tempo de Sainte-Claire Deville, não sejam simplesmente aceitos porque estão estabelecidos, ou sejam simplesmente decorados “para cumprir dever da escola ou passar de ano”.

A Olimpíada de Química é sem dúvida uma boa motivação para que os estudantes de química estudem mais e reflitam cientificamente sobre os conhecimentos químicos. A ortodoxia dessa “hard science” que tanto desafia os mais acomodados ou os que se entregam à preguiça mental, fica amenizada pelo agradável esporte de saber mais sobre a intimidade das coisas que compõem a natureza e que usamos no dia-a-dia.

O novo conceito de cidadania passa por uma educação mais ampla, sólida e com a dinâmica necessária para que as pessoas possam aprender sempre, por toda a sua vida, com o mínimo de dependência. A Química se insere nesse novo panorama de modo destacado e com papel especial nos cuidados que devemos ter com o meio ambiente e no desenvolvimento sustentado. A Olimpíada de Química é uma boa estratégia de preparação dos futuros cidadãos, dos que serão cidadãos do seu lugar, do seu Estado, da sua região, do seu País e desta nave Terra que habitamos e que precisamos preservar e mesmo salvar !

Boa Olimpíada para todos. Haverá vencedores nas competições ou no certame, mas a vitória final maior será de todos! Parabéns e Brasil à Frente !

 

 

Brasília, 9 de novembro de 2002

 

Lauro Morhy*

 

 

 

 


* Reitor da UnB, Químico Industrial / Eng.Químico e Doutor em Biologia Molecular / Química de Proteínas